Por que faço autorretratos e o que isso tem a ver com meu trabalho

Por Mariana Beltrame
4 comentários

Me autorretratar foi obviamente o gatilho para começar a fotografar mulheres. Mas também é uma forma prática de entender como minhas clientes se sentem na frente da câmera e um exercício de criação mútua, sobre climas e visões que busco aplicar em meu trabalho.

Quem já foi meu aluno, sabe que sempre recomendo o exercício do autorretrato. Se colocar no lugar do outro, em qualquer que seja a situação, é crucial. E entender seu ofício, com todos as fibras do seu corpo e coração, faz tudo ser ainda mais genuíno. 

Para mim, o autorretrato começou na adolescência. Mas ele também ditou o que eu sou hoje enquanto mulher e profissional. Abaixo conto em detalhes essa história.

O início de tudo

Eu cresci acreditando que não era bonita o suficiente. Me diziam que eu precisava ter determinada aparência para me encaixar. Por isso, eu tentava ser o mais diferente que conseguia para mostrar aos outros que eu não precisava estar no padrão. Roupas, cabelo, postura, qualquer detalhe de expressão pessoal era propositalmente rebelde.

Foi a forma com a qual consegui me proteger. Mas no fundo isso ainda me incomodava, pois eu olhava no espelho e não me via. Onde estava a Mariana? Via apenas uma menina tentando se afastar do padrão, ao invés de verdadeiramente se aceitar.

Veja bem, são duas coisas diferentes: Quem você realmente é, quando ninguém está olhando? E quem você está tentando ser para sobreviver em sociedade?

Aos 16 anos, descobri a fotografia. Gostava de fotografar nuvens, luzes estranhas e formas abstratas. Caminhava sempre com uma cybershot vagabunda na bolsa e fotografava o que me parecia interessante. E aos poucos, comecei a me autorretratar.

Não sei bem como, quando ou porque. Mas foi sem querer, sem pretenção alguma. Talvez eu acreditasse que pudesse encontrar algo interessante em mim. Mas, definitivamente, eu queria me ver. De verdade.

Um dos meus primeiros autorretratos, aos 16

O exercício de me ver

As imagens que fiz começaram a revelar traços de personalidade que nunca havia reparado, exercitado ou deixado aparecer. Virei uma espécie de experimento para mim mesma. Quantas Marianas consegui enxergar, criar e recriar, através desse anseio de me ver mais, me ver melhor, me ver inteira.

Apenas mais tarde, lá pelos 18 anos, é que a fotografia se apresentou como uma profissão, influenciada pelos autorretratos (conto isso mais a frente).

Mas nunca parei de me autorretratar. Esse processo dura até hoje e, acredito, nunca terá fim. (Estou bem ansiosa para ter 80 anos e fazer uma coletânea dos meus melhores autorretratos, haha).

Através dos meus autorretratos, eu posso me ver em diferentes fases. Acompanho minha evolução no processo de amor-próprio. Vejo meu crescimento e muitas vezes meu encontro com Marianas antigas.

Tento fazer as pazes com o que tentei enterrar de mim mesma. Tento me perdoar por não ser perfeita em minhas ações e pensamentos. Tento reconciliar quem estou sendo hoje, com quem já fui. Tento abraçar todas as profundidades, as contradições e as vergonhas. 

Descobri tanto potencial através da fotografia. Descobri tantas qualidades minadas pelo medo e pude enxergar melhor a minha singularidade.

O autorretrato se tornou um baluarte que eu quero empunhar com orgulho e dizer sem pedir desculpas: esta sou eu. Dá licença pois vim tomar meu lugar. 

E o que isso tem a ver com o meu trabalho?

Curiosamente, eu comecei a fazer ensaios femininos por causa dos meus autorretratos. Algumas mulheres viram como eu me fotografava, gostaram do meu estilo e pediram para que eu fizesse algo do tipo para elas também. E 10 anos depois, estamos aí.

Eu sempre gostei da fotografia feminina, principalmente do nu artístico, mas não foi uma decisão consciente começar a oferecer esse trabalho no mercado. Foi um empurrão mesmo.

Eu estava meio perdidona, tentando achar meu lugar na fotografia. E três mulheres me apontaram o caminho. Três mulheres me escolheram pra fotografá-las por causa dos meus autorretratos. Três mulheres definiram o rumo da minha vida. E hoje, só tenho amor e gratidão por isso.

A fotografia feminina definitivamente me achou por causa dos meus autorretratos. Então, aceitei a mensagem do universo. Entendi que eu poderia fazer, o que eu fazia por mim mesma, para outras mulheres.

É por isso que, quando digo que sou extremamente grata por minhas clientes confiarem em mim, eu falo isso do mais fundo do meu coração. Meu trabalho nem existiria se não fosse pelas minhas primeiras clientes. Elas viram potencial que nem eu mesma havia percebido e me abriram essa porta.

O autorretrato como exercício criativo

Para profissionais da imagem, entender a si mesmo em seu próprio contexto criativo e de vida é super importante.

Se perguntar porque você está criando o que está criando. Como você pode colocar sua visão de mundo em seu trabalho, expressando o que acredita e colocando essas questões para serem discutidas na sociedade. Por quais motivos sua criação é importante pra você. De que anseios ela surge.

Enfim, investigar em si mesmo seus por quês. Sua história e sua relação com o que você faz.

O autorretrato surge as vezes dessa busca de saber quem somos enquanto indivíduos singulares nesse mundo. E outras vezes de uma afirmativa do que queremos defender, da bandeira que queremos empunhar.

Sei que para mim, é através dos autorretratos que consigo perceber de onde vem a forma como retrato minhas próprias clientes e porque esse ato é tão profundamente importante pra mim.

Está enraizado na minha história de vida. Na forma como vejo o mundo e me relaciono com ele enquanto indivíduo. Enquanto mulher. E estendo esse impulso a outras mulheres. As mulheres que vêem o mundo como eu vejo também.

A gente se conecta com os outros através do que acreditamos. Não haveria de ser diferente na fotografia.

Acredito que é impossível separar o que somos do que fazemos. Quando fotografamos, colocamos muita da gente na imagem. Colocamos o que acreditamos e o que sentimos. É um exercício de vulnerabilidade, coragem e confusão, na maior parte do tempo.

Mas é sempre um exercício de conexão, propósito e elevação.

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Neste Guia você terá acesso ao meu método para se fotografar, mesmo que você não seja um profissional e tenha apenas um celular

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4 comentários

Adriana ferreira 29/05/2019 - 12:22

Simplesmente amo o seu trabalho.
Me identifico com sua proposta.Tem um tom de liberdade e auto conhecimento.
Parabéns espero em breve fazer o meu auto-retrato com você.

Abração 😍❤

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Mariana Beltrame 11/06/2019 - 08:29

Ei Adriana. Muito feliz com seu comentário. É que isso que quero pra nós, liberdade e autoconhecimento. Um beijo!

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Como fazer Autorretrato: 3 vídeos pra você aprender - Mariana Beltrame 06/05/2021 - 12:34

[…] Se você quer saber mais dessa história, clica aqui: “Por que faço autorretratos e o que isso tem a ver com meu trabalho.” […]

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5 dicas profissionais para tirar fotos de si mesma com celular - Mariana Beltrame 28/06/2021 - 18:28

[…] Leia também: Porque eu faço Autorretratos e como isso Influenciou o meu Trabalho […]

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Olá, Maravilhosa!
Vamos conversar sobre sua sessão, Futura-Musa?