No finalzinho de 2022, tive o privilégio de fotografar minha avó aos 100 anos de idade. E apenas 5 dias antes de seu falecimento.
Essa experiência, tendo ela diante das minhas lentes, me ensinou tanta coisa que talvez eu mal consiga explicar aqui.
Mas vou tentar…
Ela já estava bem frágil, visivelmente se despedindo de nós a cada dia. De forma natural, sem nenhum agravante de saúde. Simplesmente seguindo o fluxo da vida.
E pude ver tanta beleza nisso!
Toda a potência da qual sempre falo e que existe em cada uma de nossas fases, pude ver estampada em cada ruga de seu rosto.
Em cada vinco, a marca de quem viveu uma vida cheia. Difícil, mas cheia. Uma vida linda.
Já nos primeiros cliques pude finalmente entender a origem de algumas inspirações que trago em meu trabalho:
A forma elegante de posicionar as pernas cruzadas e as mãos sob o colo, a postura sempre altiva, o olhar firme. Aquela serenidade de quem apenas é. (Quem já fotografou comigo irá entender perfeitamente o que isso significa.)
Que inspirador poder enxergar a existência dela em meu trabalho. Que inspirador poder encontrá-la em mim, depois de tanto tempo acreditando que éramos tão diferentes. A fotografia tem dessas coisas…
Dela carrego, além do anel icônico que herdei, a teimosia de fazer o que quero. Carrego a força descomunal capaz de arrastar o mundo no próprio lombo. Carrego a braveza. Carrego o olhar forte, que esconde poesia por trás da retina.
Assim como ela, minha mãe e eu temos a casca grossa e o interior mole. E graças à existência inspiradora dela, conseguimos suportar muita coisa.
Obrigada por ter me inspirado a viver, Vó.
Apesar de tudo. Apesar de tanto.
Foi uma dádiva poder finalmente compartilhar com você parte daquilo que você me inspirou a construir. 🖤
1 comentário
Fiquei encantada com o ensaio da sua vozinha, qto sutileza, qto amor, adoro fotografia que envolve emoções, ainda mais, qdo vem de alguém da família. Parabéns pra você, também sou fotografa e me inspiro em historias assim como esse ensaio.